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O Comitê de Política Monetária (Copom), órgão do Banco Central do Brasil (BCB), anunciou ontem novo reajuste do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia, mais conhecido como taxa Selic. Com a mudança anunciada, a taxa básica de juros da economia brasileira, que no último 22 de setembro já havia sido elevada para 6,25%, agora passa a ser praticada no valor de 7,75%, um aumento de 1,50 ponto percentual.
Em comunicado divulgado após a reunião que tratou do reajuste, o Copom elenca diversos fatores para a definição da taxa aprovada por unanimidade pelo Comitê. A alta da inflação que afeta o consumidor brasileiro é um dos pontos considerados para a decisão no cenário brasileiro, sendo que, no cenário externo, o órgão mantém a atenção para o futuro da economia.
“No cenário externo, o ambiente tem se tornado menos favorável e a reação dos bancos centrais frente à maior persistência da inflação deve levar a um cenário mais desafiador para economias emergentes”, afirmou o Copom em comunicado.
Previsões do Copom
Além da elevação da taxa Selic, o Copom também traçou possíveis cenários para a economia brasileira até 2023. Com base em dados captados no Relatório de Mercado Focus, do BCB, e no câmbio do dólar atual (cotado em R$ 5,60), as projeções da inflação calculadas pelo Copom para 2021, 2022 e 2023 giram em torno de 9,5%, 4,1% e 3,1% respectivamente.
Com a confirmação do cenário, o Copom “supõe trajetória de juros que se eleva para 8,75% a.a. neste ano e para 9,75% a.a. durante 2022, terminando o ano em 9,50%, e reduz-se para 7,00% a.a. em 2023. Nesse cenário, as projeções para a inflação de preços administrados são de 17,1% para 2021, 5,2% para 2022 e 5,1% para 2023. Adota-se a hipótese de bandeiras tarifárias “escassez hídrica” em dezembro de 2021 e “vermelha patamar 2” em dezembro de 2022 e dezembro de 2023”, acrescentou o órgão em comunicado.
Efeitos na indústria e comércio
Após o anúncio do Copom, a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) afirmou que recebeu a notícia com preocupação, uma vez que, de acordo com a entidade, os setores produtivos já convivem com questões relacionadas à carga tributária, ao déficit de infraestrutura e ao alto custo do capital, por exemplo.
“O ritmo acelerado de aumento da taxa Selic prejudicará a recuperação da economia brasileira, ainda muito fragilizada pela pandemia de Covid-19”, afirmou em nota a Fiemg, que acredita que “o caminho (para a economia brasileira) passa pela retomada da agenda de reformas estruturais que melhorem o ambiente de negócios, proporcionem segurança jurídica e promovam o equilíbrio fiscal, como é o caso da reforma administrativa.
Para o presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas de Minas Gerais (FCDL-MG), Frank Sinatra, a preocupação do setor passa pelo crescimento dos negócios e pela sustentação de empregos e geração de novos postos de trabalho, além da possível redução do consumo neste momento.
“A nossa grande preocupação é que o consumidor, com a percepção de que os juros vão continuar subindo, acabe comprando produtos ou contratando serviços utilizando meios de pagamentos com juros. Isso, além da inflação que corrompe o poder de compra, também irá limitar a capacidade dele de compra pois irá comprometer seu dinheiro com outras dívidas. Ou seja, o orçamento já está escasso, juros altos e inflação comprometendo o poder de compra, com isso a expectativa futura pode atrapalhar um o presente. Como resultado temos um ciclo corrosivo na economia e que poderá impedir o desenvolvimento que esperamos”, avaliou Sinatra.
A taxa Selic
Segundo o professor da Fundação Dom Cabral e especialista em gestão pública, Paulo Vicente dos Santos Alves, a Selic é o principal mecanismo de regulação da inflação. Como principais efeitos práticos da medida anunciada pelo Copom, o professor afirma que pessoas físicas e jurídicas devem parar de consumir determinados produtos ou reduzir o consumo, já que a tendência é que os preços subam e que haja redução do poder de compra.
“Eu percebo que esse é o choque secundário da pandemia da Covid-19. Quando há uma tentativa de encontrar o ponto de equilíbrio, há esse choque. E boa parte disso é o fenômeno das compras reprimidas e, principalmente, a inflação, que hoje gira em torno do combustível, do gás e da energia”, aponta o professor.
Paulo Vicente lembra, ainda, que o cenário externo de demanda por energia deve trazer efeitos na economia global em meio à chegada do inverno no hemisfério norte e do verão no hemisfério sul, ambas trazendo efeitos para o aumento do uso da energia para fins de aquecimento ou resfriamento, ciclo que deve causar no ano que vem nova pressão inflacionária devido à demanda reprimida.
Conforme ressalta o professor da Fundação Dom Cabral, com a elevação da Selic, o governo também busca atrair investimentos na renda fixa, em títulos públicos, como o Tesouro IPCA, para custear seus projetos e pagar posteriormente os juros, o que traz um giro nos investimentos de renda variável, caso de ações na Bolsa de Valores, por exemplo.
Com informações do Diário do Comércio