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O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve o plano de reduzir o ritmo do aperto monetário e elevou a taxa básica de juros (Selic) em 1 ponto percentual, passando de 10,75% para 11,75% ao ano ontem.
A decisão veio em linha com as projeções do mercado financeiro. Levantamento feito pela Bloomberg mostrou que a maioria dos analistas consultados esperava elevação de 1 ponto na Selic, mesmo com a deterioração nas expectativas de inflação.
O colegiado do BC se reuniu nesta semana em meio a um cenário desafiador para o processo de desinflação diante dos novos choques decorrentes da guerra entre Rússia e Ucrânia, como a alta dos preços dos combustíveis.
O forte recuo das cotações do petróleo na terça (15), abaixo de US$ 100 (R$ 515,85) pela primeira vez em cerca de um mês, explicitou a volatilidade que atinge os mercados. Em 6 de março, o barril chegou a bater a máxima de US$ 139,13 (R$ 706,11).
O contexto é marcado por incertezas, e os efeitos no Brasil dependerão da duração do conflito no Leste europeu.
Diante disso, a autoridade monetária mostrou cautela e, apesar da piora do ambiente inflacionário nas últimas semanas, não alterou sua estratégia.
Em fevereiro, o colegiado havia sinalizado a redução da magnitude de ajuste da taxa básica de juros depois de promover elevações de 1,5 ponto percentual na Selic nas últimas três reuniões.
Em dois dígitos, a taxa de juros está agora no maior patamar desde abril de 2017, ainda no governo de Michel Temer (MDB), quando os juros eram de 12,25% ao ano.
O ciclo do aperto monetário encontra-se em estágio avançado no Brasil. Esta foi a nona elevação consecutiva da Selic, com alta acumulada de 9,75 pontos percentuais. O aumento dos juros no País é o maior entre as principais economias ao redor do mundo.
Em março do ano passado, a Selic estava em 2% ao ano, menor patamar histórico, e cinco meses depois, já entrava em território contracionista (que freia a atividade econômica e a inflação).
Esse é também o maior ciclo de aperto desde a criação do sistema de metas para inflação, em 1999, quando a taxa básica subiu de 25% para 45% ao ano.
O choque de juros é uma resposta do BC às sucessivas revisões para cima das expectativas de inflação para o próximo ano.
Na segunda-feira (14), a pesquisa Focus mostrou que a mediana da inflação projetada pelos economistas para este ano subiu de 5,65% para 6,45%, distanciando-se mais ainda do teto da meta fixada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional).
O objetivo a ser perseguido pela autoridade monetária neste ano é de 3,5%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Se as projeções se confirmarem, o teto da meta será estourado pelo segundo ano consecutivo.
Em fevereiro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo registrou alta de 1,01%, número acima das expectativas do mercado, que esperava elevação de 0,95%. No acumulado de 12 meses, o indicador de inflação chegou a 10,54%.
Diante das intensas pressões inflacionárias, economistas revisaram suas projeções para a taxa terminal da Selic. Para 2022, esperam que os juros fechem o ano a 12,75%. Em 2023, a expectativa é de 8,75% ao ano.
O Copom volta a se reunir nos dias 3 e 4 de maio, quando o colegiado do BC passa a olhar integralmente para a meta de 2023 em suas decisões sobre os juros, dada a defasagem nos efeitos da política monetária na economia.
A mais nova elevação na taxa básica de juros (Selic), anunciada ontem pelo Copom do Banco Central, desagradou os setores econômicos em Minas Gerais. Na avaliação de entidades representantes de atividades como indústria e comércio, a continuidade do aperto monetário deve contribuir para desacelerar ainda mais a economia brasileira.
“O ritmo e a intensidade dos movimentos de elevação dos juros impõem ao setor produtivo e à sociedade brasileira um custo muito alto e, por esse motivo, precisam ser questionados. Há algum tempo convivemos com um ímpeto inflacionário influenciado por choques de oferta, que tendem a ser agravados pela mudança do cenário internacional”, afirma a gerente de Economia e Finanças Empresariais da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Daniela Britto.
O presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Estado de Minas Gerais (FCDL-MG), Frank Sinatra, destaca que mais uma vez o consumo será fortemente afetado, prejudicando o comércio.
“O varejo é o mais impactado com o aumento da taxa de juros e a alta da inflação. O crédito fica cada vez mais encarecido e o consumidor cada vez mais cauteloso. Sem falar dos reflexos da guerra Rússia x Ucrânia sobre os bens de primeira necessidade, fazendo com que os preços alcancem patamares elevados. Tudo isso colabora para a construção de um cenário negativo para o consumo. Nesse aspecto, nós, varejistas, sofremos e necessitamos, cada vez mais, de estímulos para nos mantermos vivos e conseguirmos superar essas alterações na política monetária”, disse o presidente em nota.
Fonte: Diário do Comércio